A Universidade de Harvard vai abdicar da posse de duas imagens comoventes de um pai escravizado e sua filha após encerrar uma batalha judicial de seis anos com uma mulher que diz ser descendente deles. As imagens — dois daguerreótipos de 175 anos que foram feitos para um professor de Harvard e utilizados como "prova" de uma teoria pseudocientífica e desacreditada sobre a inferioridade racial de negros — não irão, porém, para a mulher que entrou com a ação, identificada como Tamara Lanier.
Em vez disso, as imagens devem ser transferidas, junto com imagens de outras cinco pessoas escravizadas, para o International African American Museum em Charleston, na Carolina do Sul, estado onde os retratados foram escravizados.
O acordo acontece enquanto Harvard enfrenta uma onda de processos judiciais e tenta resistir aos esforços do presidente Trump de enfraquecer a universidade. A Sra. Lanier celebrou o resultado do seu caso, que será anunciado nesta quarta-feira.
— Estive em conflito com Harvard sobre a custódia e o cuidado dos meus ancestrais escravizados, e agora posso descansar sabendo que eles estarão indo para um novo lar — disse Lanier em entrevista: — Eles retornarão ao estado de origem, onde tudo começou, e serão acolhidos por uma instituição que pode celebrar a humanidade deles.
Harvard não respondeu aos pedidos de comentário.
A disputa legal sobre as imagens do homem escravizado, conhecido como Renty, e sua filha, Delia, ganhou grande importância à medida que universidades tradicionais como Harvard e Georgetown enfrentavam seus vínculos com a escravidão.
Em 2016, a Faculdade de Direito de Harvard abandonou um brasão de 80 anos baseado no escudo de uma família escravocrata que ajudou a financiar a instituição. No mesmo ano, a Universidade de Georgetown decidiu oferecer vantagem no processo seletivo a descendentes de pessoas escravizadas que foram vendidas para financiar a escola.
Mas enquanto museus passaram a repatriar restos humanos e objetos sagrados para tribos indígenas norte-americanas, Harvard manteve as imagens de Renty e Delia. Lanier disse que entrou em contato com a universidade pela primeira vez há cerca de 15 anos, quando soube da existência das fotos. Renty se assemelhava a um ancestral cuja história era contada oralmente em sua família, segundo ela.
Mas Harvard não tratou sua reivindicação da mesma forma que museus haviam tratado exigências tribais por artefatos ancestrais — até agora.
— É um acerto de contas para todos os museus e instituições que atualmente possuem bens saqueados — disse Lanier sobre o acordo.
O caso atraiu a atenção de grandes nomes do meio jurídico, como Benjamin Crump, que representou as famílias de Trayvon Martin, adolescente negro desarmado morto em 2012 por um vigilante na Flórida, e George Floyd, homem negro assassinado em 2020 por um policial branco em Minneapolis.
Outro advogado do caso, Josh Koskoff, alcançou um acordo histórico de US$ 73 milhões com a fabricante de armas Remington, em nome das famílias das vítimas do massacre na escola primária Sandy Hook, em 2012.
— Uma das grandes conquistas que a Sra. Lanier obteve, por pura persistência, foi lançar luz sobre a história, não apenas da sua família, mas sobre a relação de Harvard com a verdade — disse Koskoff.
Os advogados esperam que esse acordo leve a novos acertos semelhantes em outros lugares.
— Este caso estabelece precedentes em muitos aspectos — disse Crump: — Ele deixa um caminho claro não apenas para nós, mas para a próxima geração de advogados de direitos civis que continuarão a defender a humanidade negra em todos os níveis.
A parceria entre os dois advogados começou de maneira inesperada: no set de um drama jurídico.
Crump estava gravando uma breve participação no filme Marshall (2017), que retrata um caso inicial vencido por Thurgood Marshall, advogado dos direitos civis e primeiro juiz negro da Suprema Corte dos EUA. O pai de Koskoff, o advogado Michael Koskoff, era roteirista do filme, e Crump o convenceu a atuar como co-advogado no caso de Lanier. Michael Koskoff faleceu em 2019.
— O último dia de vida profissional dele foi quando entramos com esse processo — disse o filho.
Os daguerreótipos foram encomendados por Louis Agassiz, um zoólogo nascido na Suíça e professor de Harvard, considerado por alguns como o pai da ciência natural americana. Agassiz era adepto da poligenia, teoria que sustentava que negros e brancos tinham origens genéticas distintas. Em 1850, Renty e sua filha Delia foram despidos da cintura para cima e fotografados em um estúdio na Carolina do Sul; as imagens foram usadas como "prova" para sustentar a teoria racista do professor.
Lanier processou Harvard em 2019, alegando que a universidade lucrava com as imagens. A foto de Renty, por exemplo, aparecia em um livro de antropologia vendido por US$ 40.
Em 2021, um juiz de Massachusetts rejeitou o processo, argumentando que, se os retratados não eram donos das fotos, Lanier também não poderia reivindicar propriedade. Mas, em apelação, a Suprema Corte do estado decidiu a favor de Lanier no ano seguinte.
Enquanto conduzia seu processo, Lanier buscou descendentes de Agassiz, superando uma certa hesitação inicial.
— Se eu os encontrasse, como me tratariam? — ela perguntou: — O que sentiriam por mim?
Após uma reportagem do New York Times sobre o caso em 2019, ela recebeu uma mensagem nas redes sociais de um descendente do professor.
As famílias se tornaram tão próximas que os descendentes de Agassiz chegaram a contatar Harvard em nome de Lanier.
— Já viajei com eles — disse ela: — Passei tempo com eles. Continuamos em contato.
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