Toda hora eu fico sabendo da volta de algo que nunca saiu de cena: delineador no olho, batom vermelho, franja, xadrez, monogamia. Sim, Ă© verdade que trisais, relacionamentos abertos e poliamor foram amplamente expostos nos Ășltimos anos.
Ă um tanto provĂĄvel que vocĂȘ jĂĄ tenha se deparado com algum texto ou vĂdeo da escritora Geni NĂșñez falando sobre outras formas de viver os afetos ou com algum tuĂte da querida Regina Navarro Lins falando em sexo a trĂȘs.
Apesar disso, ainda Ă© a monogamia que engrossa o caldo da nossa cultura âo que fica claro pela quantidade de mĂșsicas sobre chifre produzidas no Brasil. As vendas vultuosas de romances erĂłticos tambĂ©m revelam que esse modelo segue firme e forte: o casal pode atĂ© trepar loucamente, mas tem um final sempre normativo focado em casar e ter filhos.
Outro tipo de conteĂșdo com altas doses de conservadorismo sĂŁo as "novelinhas" criadas para o TikTok e Instagram, vĂĄrias delas compostas de diĂĄlogos do Whatsapp (falsos e geralmente muito mal escritos). Esse tipo de conteĂșdo tende a exaltar a figura da mulher ciumenta, que fuça no celular do marido e proĂbe qualquer outra mulher de se aproximar dele.
Tsunamis do feminismo e desconstruçÔes de gĂȘnero Ă parte, o modelo de afeto normativo centrado no casal e sustentado no mito do amor romĂąntico em que a Ășnica completude possĂvel sĂł existe dentro dessa estrutura segue firme hĂĄ dĂ©cadas.
A ideia de que sexo Ă© uma coisa que deve ser feita apenas no seio da relação, especialmente se vocĂȘ for mulher, ainda persiste em uma vasta porcentagem da sociedade. Assim como a noção de que, se o homem pulou a cerca, ele merece o perdĂŁo, mas se a mulher pensou em fazer isso talvez ela mereça um fim muito pior.
Nos Ășltimos anos, a maior parte dos meus amigos âurbanos, descolados, de esquerdaâ discutiram seus acordos de relacionamento e experimentaram diferentes arranjos. Enquanto isso, milhares de casais normativos fĂŁs de sertanejo e Coldplay formados por uma loura e um musculoso de sapatĂȘnis juravam fidelidade em festas de casamento muito caras.
MilhÔes de mulheres engravidaram, pariram e se viram sozinhas cuidando das crianças porque, aos olhos do povo (e do regime monogùmico), isso é responsabilidade só delas.
A monogamia não esteve sempre aà na história das civilizaçÔes e o casamento por amor se consolidou só no século 20. Infelizmente, fato é que essa dupla nunca esteve de fato ameaçada por formatos de relação que privilegiassem uma releitura dos afetos e da tarefa do cuidado.
Por isso, nĂŁo sĂŁo nada espantosas as notĂcias de que a monogamia estĂĄ na moda entre a metade mais nova da geração Z. NĂŁo Ă© uma novidade que pessoas se organizem em torno do modelo que Ă© normativo.
Ao mesmo tempo, faz todo sentido que os mais jovens expressem de forma enfĂĄtica o desejo por relaçÔes exclusivas em que homens provĂȘm e as mulheres trabalham de graça nas atividades domĂ©sticas. Afinal, eles sĂŁo bombardeados por conteĂșdos conservadores que validam essa existĂȘncia diariamente e prometem que a felicidade reside apenas nela.
Acho uma pena. Para alĂ©m da questĂŁo sexual, a vida Ă© melhor quando outros afetos fora do nĂșcleo familiar sĂŁo firmes. Desejo sorte para os novinhos.
X de Sexo por Bruna Maia Seguir Botão para seguir colunista Recurso exclusivo para assinantes assine ou faça login Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. Autora dos livros 'Parece que Piorou', 'Com Todo o Meu Rancor' e 'Não Quero Ter Filhos', fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo
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