Aos 65 anos, o professor Roberto Santos já perdeu a conta de quantas Paradas do Orgulho já participou e até cogitava se aposentar do evento neste ano. Ele mudou de ideia ao descobrir que o tema seria "Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro".
"Não me sentia tão representado pela parada, até mesmo me sentia excluído. Mas o tema deste ano levantou essa questão tão importante, chamando a atenção dos jovens para o tanto que conquistamos e sofremos. Não podemos agora ser deixados de lado", disse.
O tema mexeu com todo mundo, dos mais jovens aos que já têm seus cabelos brancos, tingidos ou não de outras cores. A parada tomou a avenida Paulista e a rua da Consolação, no centro de São Paulo, durante toda a tarde deste domingo (22).
Ao todo, 17 trios elétricos desfilaram pelas vias. Para reforçar o debate sobre o tema, muitos deles tinham pessoas com mais de 60 anos em lugares de destaque. Um deles foi o ator Marco Nanini, que estava no veículo que abriu o desfile.
A parada começou por volta de meio-dia, e os carros começaram a desfilar após uma série de discursos de políticos ligados à pautas da comunidade LGBT+. Depois de cantarem o hino nacional, os carros começaram a andar em meio a uma profusão de leques com as cores do arco-íris.
Os leques se tornaram um símbolo de resistência e representatividade para a comunidade LGBT+. Neste ano, além deles, fez sucesso na parada o gelo com brilho —vendido para refrescar bebidas alcoólicas.
"Ser trans é difícil em qualquer idade, imagina ser trans com artrite", disse a autônoma Célia Matos, que daqui a dois dias vira sexagenária. Ao seu lado estava seu noivo, Cláudio, 38, que deu uma gargalhada com a resposta da mulher por quem se apaixonou em 2020. Célia era moradora do prédio onde ele trabalhava como porteiro.
Até conhecer Cláudio, contou, a idade pesava. Ela foi literalmente chutada para fora de casa quando adolescente, por um pai "que me deu uma bicuda" após entender que a filha não era o filho homem que ele desejava.
Sempre teve uma vida social intensa. Até deixar de ser. Alguns amigos morreram por causa do HIV. Com outros, perdeu contato. A solidão da transgênero idosa era um fantasma que a assombrava —sem ter tido filhos, e com uma família que a rejeitava, quem cuidaria dela na velhice?
Hoje está "feliz da vida" com o namorado, com quem quer se casar no verão, porque quer um vestido tomara que caia, e o inverno não permite para essa senhora friorenta.
O professor de educação inclusiva Isaac Khaky, 32, fez uma roupa em homenagem ao tema da parada. Ele selecionou fotos de personalidades LGBT+ mais velhas e fez um colete com as fotografias. Entre os homenageados na roupa estavam Ney Matogrosso, Marco Nanini e David Bowie.
A drag Ditinha Silva concordou que o mote da edição "é maravilhoso, porque eu sou uma idosa, então é para mim a parada". Tem 73 anos e um conselho para "as novinhas": "Vai trabalhar, não vai para a esquina".
Um discurso que se repetiu com frequência na avenida Paulista, ponto de partida do evento: se as novas gerações já podem andar com menos medo pelas ruas, devem um bocado à turma que veio antes.
"A gente se considera sobrevivente de tudo o que a gente já viveu", afirmou o designer Maurício Kiffer, 61. Seu marido, o cozinheiro Itamar Kiffer, lembra que foi na parada, cerca de15 anos atrás, que o casal andou de mãos dadas em público de forma inédita.
"A gente é outra geração, tudo era gueto, ia em bar só para gay. Foi a primeira vez que a gente teve coragem de se beijar na rua."
Lilian Recacho, 59, e Regina Célia Aquino, 56, foram à Paulista com Benício, o neto de 1 ano. Elas são casadas há 25 anos e criaram juntas os quatro filhos de Lilian. "Eu tenho até um filho que é evangélico", contou ela.
A mãe de Benício não foi porque está trabalhando. "Ela já curtiu muitas meninas e brinca que o filho foi a cura gay dela", disse Recacho, que também refletiu sobre o tema da vez. "Envelhecer é difícil para todo mundo, ainda mais sendo gay."
José Helcimar de Freitas, 59, e José Martins Lopes Júnior, 51, usavam gorros de urso de pelúcia. Reconhecem-se como ursos, uma ala da comunidade gay.
Freitas lembrou que o etarismo, que é o preconceito com os mais velhos, também atinge os héteros. Se adicionar o fator LGBT+, então, a hostilidade social pode vir em dobro.
Lopes Júnior disse achar importante "dar visibilidade aos gays que, ao envelhecer, precisam de políticas públicas, do olhar social".
O mais velho do casal pontuou que a causa não se restringe ao "G" de gays da sigla LGBT+. "Todas as letras, né?"
Perto dali, uma senhora trans pedia um abraço a quem passava. Perdeu o marido com quem foi casada por décadas, e esta era a primeira parada sem ele.
De acordo com o Monitor do Debate Político, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), a estimativa de participantes para as 13h58 deste domingo era de 48.747 pessoas. Esse horário foi escolhido por ser o momento de maior concentração de público. Em 2024, o cálculo foi de 73,6 mil pessoas. Entre os dois anos houve uma redução percentual de 33,8%.
Para o cálculo, foi utilizado o método Point to Point Network (P2PNet), desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Chequião, na China, e pela empresa Tencent. O software foi treinado com fotos de multidões da Universidade de Xangai e com imagens brasileiras da USP (Universidade de São Paulo).
No método, um drone captou imagens aéreas da multidão e o software analisou automaticamente essas fotos para identificar e marcar as cabeças das pessoas. Utilizando inteligência artificial, o sistema localizou cada indivíduo e calculou quantos pontos correspondiam a pessoas na imagem.
O método possui uma precisão de 72,9% e uma acurácia de 69,5% na identificação de indivíduos. O erro percentual absoluto médio na contagem é de 12%, para mais ou para menos, em imagens aéreas com mais de 500 pessoas, segundo a organização.
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