ONU critica novo modelo de entrega de alimentos em Gaza após morte e caos em centro de distribuição


The UN criticizes a new food distribution model in Gaza after a chaotic inauguration resulted in deaths and injuries, sparking concerns about the process's safety and effectiveness.
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Ao menos uma pessoa morreu e 47 ficaram feridas na terça-feira, em meio à caótica inauguração de um centro de distribuição de ajuda humanitária na Faixa Gaza, por meio de uma fundação patrocinada por EUA e Israel. Um porta-voz da ONU afirmou que a maioria das vítimas foi atingida por disparos de soldados israelenses, que teriam aberto fogo após palestinos invadirem o local na tentativa de acessar insumos básicos, que não entravam no enclave desde o dia 2 de março, em meio a um bloqueio decretado por Israel. O Exército do Estado judeu alega que suas tropas realizaram apenas tiros de advertência.

Fontes ligadas ao Ministério de Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, afirmaram que uma pessoa baleada durante a confusão morreu após dar entrada no Hospital de Campanha da Cruz Vermelha em Rafah com ferimentos graves. As autoridades palestinas, citadas pela rede americana CNN, apontaram um número de 48 feridos. A quantidade é quase a mesma confirmada pelo diretor do Escritório de Direitos Humanos da ONU nos Territórios Palestinos, Ajith Sunghay, que informou nesta quarta-feira ter confirmado 47 feridos. O porta-voz alertou que o número poderia aumentar, já que uma avaliação ainda estava em curso.

— Quarenta e sete pessoas ficaram feridas na distribuição de terça-feira. A maioria dos feridos foi resultado de disparos — anunciou Sunghay. — Estamos tentando confirmar o que aconteceu para saber a gravidade dos feridos.

O Exército de Israel informou que suas tropas dispararam "tiros de advertência" em uma área externa ao centro de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) na terça, após o local em Rafah ser invadido. Os militares israelenses afirmaram que restabeleceram o "controle da situação", mas não confirmaram a informação sobre as dezenas de feridos e a morte em decorrência dos disparos.

— Estamos verificando as informações da ONU. Neste momento, não temos nenhuma informação a respeito — disse o coronel Olivier Rafowicz, porta-voz do Exército israelense em resposta a questionamento da AFP, acrescentando que os soldados "dispararam para o ar" e que "em nenhum caso" abriram fogo contra as pessoas.

A Fundação Humanitária de Gaza mencionou parte do caos em seu local de distribuição em Tel al-Sultan, em Rafah, em um comunicado na terça-feira. A organização observou que "as necessidades no local são grandes" e que, no final da tarde, o volume de pessoas no local de distribuição no sul de Gaza era tão grande que levou a equipe da fundação a recuar "para permitir que um pequeno número de moradores de Gaza recebesse ajuda em segurança e se dissipasse".

Por comida, moradores de Gaza invadem novo centro de ajuda em meio a disparos israelenses

Duas pessoas envolvidas na iniciativa disseram ao New York Times que, no final da tarde de terça, a multidão — estimada por uma delas em cerca de cem moradores e refugiados — invadiu o local. Elas disseram que seguiram o plano para a situação já prevista, recuando para evitar um confronto, enquanto um grupo de trabalhadores palestinos da equipe formou um cordão de isolamento ao redor da área afetada, permitindo que aqueles que invadiram levassem pacotes de comida. A calma foi finalmente restaurada, disseram as fontes, e os integrantes da organização não teriam disparado nenhum tiro.

Um palestino de 26 anos também ouvido pela publicação americana, que se identificou apenas como Mohammad por medo de retaliação do Hamas e de outras facções palestinas, disse que morava perto do local e estava entre as primeiras 50 pessoas a chegar. Ele afirmou não ter visto ninguém preso ou revistado, acrescentando que o Exército israelense era visível à distância. Segundo o jovem, tanques posteriormente fizeram disparos de metralhadora como tiros de advertência para controlar a multidão.

Em meio a uma guerra que se arrasta a quase 20 meses e provocou a morte de 54 mil pessoas no enclave palestino, a situação humanitária da população civil se deteriorou gravemente a partir de um bloqueio total imposto por Israel aos carregamentos de ajuda humanitária. Caminhões com comida, água, medicamentos e combustível ficaram presos na fronteira por mais de dois meses, enquanto as organizações que atuam em território palestino emitiam alertas sobre o agravamento da situação em solo. Ao mesmo tempo, Israel retomou e intensificou os ataques ao enclave.

Enfrentando uma pressão crescente da comunidade internacional e também críticas internas, o governo israelense decidiu permitir a retomada da entrada de carregamentos humanitários na semana passada. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez questão de destacar que apenas uma quantidade "mínima" de ajuda seria autorizada, citando "razões diplomáticas" para a autorização.

A concessão só foi feita, porém, com a distribuição no enclave sendo feita em um novo modelo, por meio da recém-fundada GHF, fundação americana sobre a qual pouco se sabe, e com que nenhuma das principais organizações humanitárias do mundo aceitou trabalhar, uma fez que o formato adotado exige a participação direta de militares israelenses — algo que, na avaliação da ONU e de ONGs humanitárias, fere princípios de imparcialidade, neutralidade e independência inerentes a esse tipo de atividade.

O diretor-executivo da GHF, Jake Wood, pediu demissão no domingo, afirmando que não havia como cumprir os objetivos estabelecidos de aliviar a tragédia humanitária em Gaza e seguir os princípios de atuação.

Em Israel, Netanyahu reconheceu que os eventos de terça-feira ocorreram porque houve uma "perda momentânea de controle" no centro de distribuição. Porém, um oficial militar classificou posteriormente a distribuição como "um sucesso". A ONU voltou a criticar o modelo nesta quarta.

O chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou que a entrega de ajuda na quarta-feira foi um processo "caótico, indigno e inseguro", afirmando que a mudança da distribuição para a fundação americana era uma distração.

Mulher palestina carrega pacote com ajuda humanitária em Rafah — Foto: AFP

— Acredito que seja um desperdício de recursos e uma distração das atrocidades. Já temos um sistema de distribuição de ajuda adequado. Enquanto isso, o tempo está se encaminhando para a fome, então o trabalho humanitário precisa ter permissão para fazer seu trabalho de salvar vidas agora — disse Lazzarini.

A ONU também aponta que o formato de ajuda, pelo qual os palestinos precisam se deslocar até as áreas estabelecidas pelos militares israelenses, é ineficaz, uma vez que grande parte da população de Gaza não tem como viajar até o extremo sul (caso do centro em Rafah) para retirar os alimentos, punindo os mais vulneráveis, como idosos, doentes e deficientes. Entre a população palestina, também há preocupações de que a colaboração estreita com Israel faça com que sejam detidos ou impedidos de retornar ao norte de Gaza.

— Isso já aconteceu no passado, quando a população se deslocava do norte para o sul: ao cruzar postos de controle, eles foram detidos — disse Sunghay, que também levantou "inúmeras preocupações com esse mecanismo".

Em paralelo à crise na distribuição, as operações militares continuam em Gaza. A Defesa Civil palestina informou que 16 pessoas morreram em ataques durante a madrugada e manhã de quarta-feira. Entre as vítimas estavam nove pessoas da família do repórter cinematográfico Osama al-Arbid, que morreram em um ataque contra sua residência na área de al-Saftawi, norte de Gaza, durante a madrugada, segundo Bassal. (Com AFP e NYT)

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