Maior produtora de celulose do mundo e uma das líderes em produção de papel na América Latina, a Suzano não é uma novata no ranking Valor Inovação Brasil. Segunda colocada na lista de empresas mais inovadoras do país e primeira no setor de papel e celulose, a empresa alcançou o topo da classificação geral no ano passado. Em 2024, a Suzano entrou para o seleto grupo das empresas centenárias e, contrariando o que se possa imaginar de um negócio com tanta tradição, tem na cultura de inovação um dos seus pilares estratégicos.
Com uma história de pioneirismo em pesquisa e desenvolvimento, a Suzano deu os primeiros passos em inovação ainda na década de 1950, quando começou a produzir papel e celulose com fibras de eucalipto, mais adaptáveis ao solo brasileiro, mas que até então não eram vistas como competitivas pelo mercado. O investimento ajudou a popularizar o insumo, que hoje representa cerca de metade da produção global dessa indústria. A empresa continuou inovando com técnicas de plantio e clonagem e chegou a ganhar um prêmio global na década de 1980 por seu trabalho científico em desenvolvimento de florestas.
O movimento mais recente em direção a uma cultura de inovação se deu com a criação da Nova Suzano — após a fusão com a Fibria, em 2019 — se consolidando como a maior produtora mundial de celulose. Com a posição de liderança no mercado, nasceu também um novo objetivo estratégico, a “inovabilidade”. “É a inovação a serviço da sustentabilidade”, diz Fernando Bertolucci, vice-presidente de sustentabilidade e inovação da Suzano. Não por acaso, seu cargo representa a união dos dois temas. “Temos como meta substituir dez milhões de toneladas de produtos fósseis com soluções renováveis até 2030”, afirma.
Para sustentar essa estratégia, a empresa investe mais de 1% do faturamento líquido em inovação e tem uma equipe de 120 cientistas focados em pesquisa e desenvolvimento, em quatro centros no Brasil e três no exterior. “Acreditamos que, para fazer frente aos desafios da crise climática, é preciso desenvolver soluções que não existem atualmente, mas que se possam aplicar em escala”, diz o vice-presidente.
Além dos produtos tradicionais em papel e celulose, a Suzano vem crescendo em outras categorias, como copos, canudos e embalagens flexíveis, alternativas renováveis ao plástico. O objetivo é oferecer opções mais sustentáveis com qualidade e custo aproximados aos dos já existentes no mercado. A nova estratégia exigiu uma transformação nas unidades de negócios, que incluiu as embalagens, além do enfoque em outros tipos de produto. Um deles é a celulose fluff, muito utilizada em fraldas, até então dominada por outro tipo de fibra, presente em árvores coníferas. A pesquisa possibilitou que o eucalipto, mais uma vez, pudesse competir em um mercado já estabelecido.
Bertolucci explica que o aumento da produção está baseado na eficiência, e não na utilização de mais recursos naturais. “Desde a década de 1970, dobramos a nossa produtividade florestal e continuamos aumentando em um ritmo de 3% ao ano. Começando com o preparo do solo, uso de fertilização específica, processos que exigem menos água e químicos, estamos sempre buscando entregar produtos que sejam melhores e mais sustentáveis”, diz.
Essa eficiência se traduz também em reaproveitamento de materiais residuais da produção de papel e celulose, como a lignina, que se utilizava para a produção de bioenergia e que a Suzano passou a aplicar recentemente em uma nova planta comercial de resinas e borrachas. A geração de novos negócios com biomateriais já existentes nas florestas, mas que exigiam um processamento mais complexo, é outra vertente de investimentos. Bertolucci cita a nanocelulose, que pode ser usada para fabricação de fios têxteis mais sustentáveis. O projeto foi desenvolvido em parceria com a startup finlandesa Spinnova e está em fase pré-comercial.
Esse tipo de colaboração ganhou impulso com a criação da Suzano Ventures, uma venture capital com um fundo de US$ 70 milhões para novos investimentos. A Suzano Ventures tem um comitê técnico e de investimentos para avaliar a relevância de projetos e empresas inovadoras para o negócio e já realizou o aporte de US$ 14 milhões em startups em todo o mundo. Além do ramo de corporate venture, a Suzano também faz parcerias com universidades e institutos de pesquisa para identificar projetos e atrair talentos inovadores.
Beatriz Salvatori, diretora de gente e gestão da Suzano, afirma que o talento diverso e alinhado com a cultura da empresa é essencial para os resultados positivos em inovação. Durante o processo de recrutamento, os candidatos têm seu perfil avaliado em habilidades como a de inspirar e transformar, que são essenciais para manter o “inconformismo positivo” que se cultiva na Suzano.
Ao longo da jornada do colaborador, a empresa também promove a cultura de inovação por meio de treinamentos formais, mentorias e programas de desenvolvimento sob medida. Uma das plataformas disponibilizadas é uma academia digital que utiliza uma metodologia de design, estimulando o pensamento disruptivo para a solução de problemas complexos. Outro ambiente em que os colaboradores podem aprender com cases de inovação é o Cubo Itaú, que a Suzano apoia como mantenedora e onde promove discussões com outras empresas de setores como o agronegócio e a logística.
Beatriz explica que um pilar muito importante desse processo é o envolvimento da liderança, que precisa mostrar interesse genuíno pela inovação, criando um ambiente seguro para seus times e sendo um exemplo por meio de suas atitudes. “Um dos atributos que utilizamos para avaliar a nossa liderança é a capacidade de transformar, que requer um perfil curioso, com coragem de mudar e que lide com o erro de forma positiva”, diz. Esse atributo é medido nas avaliações de desempenho e está vinculado à remuneração variável dos executivos.
Para impulsionar essa habilidade de transformar o entorno, a Suzano investe nas trocas entre a alta liderança e startups, em um programa de inovação aberta que tem um forte elemento de mentoria reversa: ao mesmo tempo que os executivos da companhia compartilham sua experiência em gestão com empreendedores, também se beneficiam do pensamento dinâmico dos atores desse ecossistema. Há aproximadamente um ano, a lógica de mentoria de mão dupla também começou a ser aplicada em programas internos de desenvolvimento de talentos, onde se conectam executivos seniores com gestores mais jovens, estimulando o intercâmbio de experiências entre gerações.
Tantos projetos de colaboração, internos e externos, se traduzem em resultados tangíveis. Aos 100 anos e com 40 mil funcionários, a empresa continua expandindo suas fronteiras. Hoje a Suzano é líder em depósito de patentes no setor, com 790 no Brasil e no exterior, além de ter 75 cultivares — denominação utilizada para uma seleção genética de plantas cultivadas — protegidos. Integrante de associações e trabalhos cooperativos, iniciativas multissetoriais e entidades de classe, a empresa colabora até mesmo com concorrentes em projetos específicos de pesquisa e desenvolvimento, dentro e fora do Brasil. “Quando se trata de inovação, colaboração é o nome do jogo. Muitas vezes as soluções para nossos problemas não se encontram internamente, mas em uma startup ou até mesmo na concorrência. É assim que o mundo avança”, afirma Bertolucci.
Skip the extension — just come straight here.
We’ve built a fast, permanent tool you can bookmark and use anytime.
Go To Paywall Unblock Tool