The article explores the word 'refrescância' (refreshness), a neologism that emerged in Brazilian Portuguese, likely in the late 20th century, primarily used in advertising for personal hygiene products.
Initially absent from dictionaries, 'refrescância' gained acceptance, appearing first in Francisco S. Borba's 'Dicionário de usos do português do Brasil' (2002) and later in the Houaiss and Aulete dictionaries. Its definition is established as 'quality of being refreshing; freshness'.
The creation of 'refrescância' is analyzed as a natural linguistic process, analogous to other word formations. Although other words could convey the same meaning (frescor, frescura, refrigério), 'refrescância' proved more successful, potentially due to its 'refrescability'.
“Caro Sérgio, estou aqui na refrescância do ar condicionado pensando: existe mesmo essa palavra, ‘refrescância’? No meu dicionário ela não aparece.” (Marjorie Lopes)
Não é curioso que Marjorie primeiro empregue com naturalidade a palavra “refrescância” e só depois pergunte se ela existe? Claro que entendemos sua dúvida: embora saiba que o substantivo tem assento consolidado em nosso vocabulário e se presta, portanto, à boa comunicação de uma mensagem, ela gostaria de saber se ele tem existência oficial, se é reconhecido pelos dicionaristas. Ou seja, se pode ser considerado “bom português” ou se não passa de uma gíria vira-lata.
A resposta está no meio do caminho. Refrescância é um neologismo brasileiro criado recentemente por publicitários – tudo indica que nos últimos anos do século 20, embora não me conste existir uma certidão de nascimento oficial – para vender pasta de dente. Ainda hoje é uma palavra que tem gosto especial pelo campo semântico da publicidade de produtos de higiene corporal, desodorantes incluídos. No entanto, caiu no gosto dos falantes e vem sendo empregada na linguagem comum em diversas situações.
A lógica da criação da palavra é evidente: numa analogia com pares de vocábulos como beligerante/beligerância, adolescente/adolescência e outros, de refrescante se fez refrescância. Tratava-se de uma licença poética (ou publicitária) que desprezava o termo refrescamento, detentor vernacular de uma acepção idêntica ou no mínimo semelhante: “ato ou efeito de refrescar(-se)”. Outros substantivos tradicionais que poderiam dar conta de tal sentido eram frescor, frescura e os embolorados fresquidão e refrigério. Por razões variadas, nenhum deles deve ter sido considerado tão refrescante quanto refrescância.
Até poucos anos atrás, era impossível encontrar a palavra em qualquer dicionário. Não é mais assim. O primeiro a acolhê-la foi o “Dicionário de usos do português do Brasil”, de Francisco S. Borba, lançado em 2002. O verbete refrescância ganhou a definição de “sensação de frescor” e um exemplo pinçado (significativamente) num texto da “Folha de S.Paulo” sobre marketing: “Refrescância e proteção. É esse o binômio que orienta toda a comunicação da Kolynos”. Registre-se que a marca Kolynos está fora do mercado desde 1997.
Por sua proposta de flagrar os usos correntes no português brasileiro atual, o dicionário de Borba é liberal por definição. No entanto, ganhou nesse caso um aliado de grande peso institucional quando o Houaiss, numa de suas últimas atualizações, passou a registrar o vocábulo, com datação de “cerca de 2000”: “qualidade do que é refrescante; frescor, fresquidão”. O Aulete também já reconhece a palavra. A assimilação completa de refrescância não está distante.
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